sexta-feira, 3 de julho de 2015

Sementes de Joio



De tempos em tempos, nasce um louco e nasce um cínico. E de onde não se sabe, cria-se à sua volta, atmosfera de admiração, culto e delírio. Assim foram: Saint-Simon, Robert Owen, Adolf Hotler, Karl Marx, Friedrich Engels, Jim Jones, Antonio Gramsci, Vladimir Lenin.. Fidel Castro, Hugo Chaves e seu sucessor, e outras mentes cuja insanidade ou cinismo era representada no comportamento, desde a insubordinação até a maleficência mesmo.

A ocorrência mais curiosa disso, é o poder que eles exercem sobre aqueles que se dobram ao seu hipnotismo social. Parece ser esse fenômeno, um desenrolar senoidal, onde épocas de serenidade humana e de insensatez se alternam na evolução dos povos.

A natureza social é um tanto quanto surpreendente no tocante a escolhas e tendências, e alguns desses loucos, têm a percepção acurada dessas sociedades carentes e desarmadas, delas se aproveitando para lançar seus propósitos a fim de satisfazerem seus egos doentios. Alguns pela força, outros pela palavra, outros pelo engodo, mas todos com a unânime capacidade de predominar e prejudicar de alguma forma os que lhe estão sob domínio.

Assim nascem as perversas ideologias diversas do mundo. De direita ou de esquerda. Desestruturam-se sociedades, invertem-se valores, quebram-se instituições, anulam-se leis, escravizam-se homens. No entanto, alguns desempenham o mesmo papel tirano apenas por egoísmo, cinismo e perfídia mesmo. Comum nos países de ideais totalitários, populistas, comunistas, socialistas e de toda essa vertente esquerdopática, a figura do tirano cínico, esconde o sinistro desejo de subverter o curso natural do progresso humano a fim de acumular e perpetuar para si, sobretudo o poder.

Para que eu não cite especificamente os tiranos de agora, tão comuns em nosso meio atual, trago à luz o exemplo de Charles Fourier. Para que se entenda o comparativo que ofereço, arrazoarei sobre sua vida, cuja trajetória foi atravessada pelo mesmo fenômeno de poder.

Fourier nasceu comum (poderia ter se chamado Luiz), filho de comerciante simples , mas próspero e capaz de ajuntar para si, bens, e alguma solidez e estabilidade. Frustrado em seus ideais de realização pessoal, sem ter ido à universidade, as frustrações e mágoas contra a sociedade, logo tornaram-se combustível para sua trama alternativa maléfica, travestida de compaixão pelo seu povo. De emprego em emprego, avesso à disciplina de um trabalho que não lhe rendesse prazer, ele utilizou-se da herança deixada pelo seu pai, a fim de viajar e expandir suas ideias. Sem a capacidade de multiplicar seus haveres pelo trabalho, ele tornou-se homem de influência em seu meio, pela simpatia, bazófia e deboches joviais que o fariam cair nas graças dos simplórios.

Jamais foi homem próspero pelo trabalho, mas pelas ideias com que conseguiu seduzir o seu povo. Charles, planta as sementes de joio na calada do oportunismo, semeando entre seus contemporâneos, a falsa ideia de igualdade, tecendo críticas à sociedade próspera, às posições da religião, às estruturas fundamentais conservadoras, ao modelo capitalista, enfim... a toda uma moral e costumes de sua sociedade. Desdenhou a organização capitalista, subverteu, no entanto seu cinismo lhe permitiu viver confortavelmente sob a égide do legado material.

Água que se turva resulta em lama. Fourier foi tão somente um cínico, debochado e libertino, que provocou agitações na sociedade desavisada de então. Desconcertante é o paralelo que traçamos com nossos “cínicos” de hoje.

Fourier instiga a correnteza desenfreada e irracional das paixões pessoais e coletivas e semeia seu joio pervertendo e denegrindo conceitos das relações humanas, no que suaviza e aplaude a insurreição e libertinagem de cada pessoa e promove a desorganização necessária para perpetuar seu ideal. A ideia de coletivismo e cooperativismo dentro do padrão socialista toma forma sob sua orientação e se materializa através de falanstérios (falanges), que não são mais que cortiços, a abrigar precariamente grupos de pessoas e seus anseios imorais. Nada têm de prósperos, nada têm de prêmio, pois servem a todos com tal igualdade de pobreza, que desvincula todo homem de seu natural destino de progredir. A falsa ideia de que o trabalho deve ser única e exclusivamente ligado ao prazer e não às aspirações e necessidades, estimula o homem à acomodação que os fará escravos para sempre. Outras iniciativas, mais perigosas, no tocante à relação de gêneros, foram igualmente incentivadas por Fourier.


“Não sacrificai a felicidade de hoje em nome da felicidade futura. Desfrutai do momento, evitai toda associação de matrimônio ou de interesse que não satisfaça vossas paixões no mesmo instante. Por que trabalhar pela felicidade futura, se ela se sobrepõe aos vossos desejos, e, na ordem combinada, tereis apenas um desprazer: o de não poder dobrar a duração dos dias, a fim de que eles comportem o imenso círculo de gozos que tereis a percorrer”
(Charles Fourier - Aviso aos civilizados a respeito da próxima metamorfose social

Charles Fourier, era perverso, crítico e debochado, em pleno conhecimento das necessidades e fraquezas dos que seduziu e arregimentou. Fourier foi aclamado e louvado entre os seus, mas jamais morou em uma dessas unidades por ele idealizadas. Desdenhou o capitalismo, mas dele, jamais abriu mão. Utilizou-se da desregra, do desrespeito, da sedução para desmantelar a organização vigente, não com a compaixão declarada pelos seus, mas pela torpe e vil necessidade de satisfazer a si próprio.

Nossos “cínicos” nos têm mantido no declínio dessa senoidal, que é onde mais se ajustam os princípios do populismo, e sua conotação igualitária que de social e humanitária nada tem. Que cultiva uma seletividade hierárquica, capaz de delimitar em castas, e onde o lugar no topo da pirâmide, é privilégio apenas dos ditadores.


Por: Mônica Torres
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Publicado Originalmente em: Grupomoneybr