domingo, 26 de julho de 2015

Brasil em Código de Barras



O que vem a ser todos esses gráficos? Todos esses números.. os percentuais e as taxas tão bem recitadas na matéria “Brasil. Apocalypse now!” anterior, neste mesmo blog?  O que vem a ser tudo isso em nosso dia a dia? O que é isso chamado Selic, que jamais compramos, encomendamos, ou jamais consultamos no nosso dicionário? Por que isso tem tanta importância se em tantos anos, jamais demos permissão aos fazedores de gráficos, números e taxas, a subtrair nossas reservas tão suadas, guardadas em nossas humildes poupanças?

            Então... somos gente comum, feita de filas, esperas, prestações, pequenos empreendimentos que comemoramos o sucesso quando são de sucesso.. e ninguém imaginou que.. PIB ou “Selic”, tão cheia de pompa e prestígio, designasse os lucros, determinasse os ganhos, apontasse as perdas de nossos pequenos empreendimentos. Em que instante de nossa ida ao trabalho, de nosso esforços, permitimos a essa “sombra”, o determinar absoluto do nosso sucesso ou fracasso? Mas... sim, estamos reféns dela, e há uma equipe escolhida pelo pessoal que escolhemos, que deveria cuidar para que nossas vidas andassem em ordem e.. progresso, claro! Mas cometem os mesmos erros todos os dias, e já não têm mais controle, porque desses erros se alimentam.

            Alguém aqui em baixo, ouviu falar em pedaladas fiscais... ajustes... equilíbrio de contas, cortes... apertar os cintos... mas como? O que significa tudo isso.. ou, em que parte da lata de leite, ou do pacote de açúcar, ou da bula de remédio, isso tá impresso? Tempo de cinco segundos talvez, pra perceber que é no código de barras, na linha larga ou estreita do código de barras, que tão acauteladamente, codifica as palavras SELIC, PIB, VARIAÇÃO CAMBIAL, DEFICIT PRIMÁRIO, JUROS, CORREÇÃO e toda sorte de condenações transformadas em preço, pelo eficiente leitor digital do caixa.
           
            Mas há uma coisa de que as reportagens falam, que todos entendem: “A retração da atividade econômica”, pois que essa sim, é bem representada em imagens 3D, na medida em que dirigimos nosso olhar para o lado e percebemos estar ombro a ombro com representantes daquele contingente de 8,2 milhões de desempregados (prefiro tratar assim os citados desocupados), cujo desespero começa a escrever uma história triste, de consequências e estatísticas (sem querer me aprofundar nos números de infortúnios).

            Aqui em baixo, sentimos tudo na forma de.. dívidas, não cumprimento dos compromissos, vergonha, angústias, perdas, dúvidas, inseguranças... aqui em baixo, somos frágeis, somos desamparados, somos vítimas. Não há amanhã seguro, há apenas o sentimento animal de preservar a vida e a família, de conservar e se proteger, daquele monstro multi-face do código de barra.

            E a reportagem ainda nos diz que devemos apertar os cintos? E que cintos mais são esses, que já nos sufocam e tiram de nós além do respirar orçamentário, o planejar e o porvir?

            Somos o Brasil, somos o espaço territorial em risco, somos a empresa administrada por mãos incompetentes de equipes incompetentes,  e a má gestão, em qualquer empreendimento, de qualquer tamanho e natureza,  significa a falência. Simples assim! A “arrogância , incompetência e corrupção”,  declaradas por imprensa estrangeira, não deveria nos chocar, porque não são novidade para nós, visto que já estamos passando esse código de barras no leitor, há algum tempo e pagando caro por isso sem tomar qualquer providência realmente eficaz.

            Alguém aqui em baixo, ainda espera meio sem entender como e quando, tudo isso vai mudar, como e quando esses fantasmas de nomes e siglas exuberantes atrás dos códigos de barra, vão enfim, permitir um convívio menos doloroso com as nossas vidas comuns no dia a dia.

Por: Mônica Torres
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Publicado originalmente em: Ossami Sakamori Blogspot