segunda-feira, 27 de julho de 2015

Caminho de Volta



Nascido em 1939, David Horowitz, filho de comunistas sonhadores, transitou durante muito tempo pelos caminhos dessa ideologia.  A influência de seus pais, não poderia render-lhe, senão alguns anos de sua juventude, mergulhado no  idealismo Marxista apaixonado. Horowitz foi naquele então, um homem sonhador, observador da evolução social,  dos conflitos mundiais vividos à sua época de rapaz nos anos 50/60, onde fervilhavam as manifestações, o sonho de economia planificada, que pretendia implantar um modelo socialista, que promovia a igualdade dos povos, sob um comando que tudo provesse, para que todos tivessem. Sua adolescência foi vivida em plena guerra fria e seu temperamento dinâmico certamente lhe permitiu se inserir a fundo nos valores socialistas, ainda que morasse num país capitalista, lado oposto do cabo dessa guerra fria com a União Soviética.

No entanto, o senso de humanidade é bom senso sempre, e a observação da evolução e desenrolar dessa guerra fria e a vida fora da União Soviética, trouxe à luz dos olhos de Horowitz, a realidade acerca dos seus ídolos e ideais. A subida de Nikita Khrushchov ao poder pós Stalin, revela ao mundo documentos e livros importantes que denunciam  a prática de horrores e a existência de campos de concentração soviéticos, encapsulados no idealismo socialista da época.

Horowitz toma conhecimento do Khrushchov Report aos 17 anos, um momento crucial de consciência, que promoveu a debandada e abandono de muitos membros do partido. É claro que uma mudança drástica de um ideal introjetado sistematicamente na vida de qualquer indivíduo, não acontece de forma abrupta ou sem danos, e Horowitz, passa a adotar um socialismo mais suave, “falsamente inofensivo”, como o que conhecemos hoje. Então, o idealismo de David, se manifesta na criação da nova esquerda americana, cujos ideais de sistema, são uma volta ao Marxismo, sem as máculas de sangue deixadas por Stalin. Mas o espírito de David, é que é puro e sem máculas.

David se torna um ativista influente da causa social e consolida sua aptidão pela liderança e o gosto pela escrita lhe torna famoso. Mais adiante, já morando na Europa, ele revê conceitos e concebe a estrutura de uma esquerda nada totalitarista, mais liberal, mais suave e amena, que formaliza em matérias escritas para revistas importantes, em sua volta aos Estados Unidos.

É irônico mas providencial, observar-se aí, que em qualquer tempo, apesar de ideais, de sonhos, de disciplina e aprendizados de esquerda, cujo principal fundamento é se opor ao capitalismo, todas as criaturas se servem da livre escolha e iniciativa para suas realizações pessoais.

Nesse instante abro parêntese, para esboçar minha observação lógica de que, se o socialismo prega uma igualdade para os homens, na forma em que a caridade, ou fraternidade social que iguala as pessoas a fim de torná-las dignas, é o ingrediente principal, por outro lado, esse mesmo socialismo é relegado a segundo plano, pelo seu mais ferrenho defensor, assim que movido pela lei natural da recompensa, inerente ao indivíduo, desde seu nascimento. Explicando: não há igualdade entre os homens, jamais haverá essa igualdade, porque desde os mais primários sentimentos e reações humanas (até mesmo nos animais irracionais), esperamos “recompensa”. Vivemos, trabalhamos e morremos por ela e ela não pode ser igual para todos em nenhum aspecto. A lei da recompensa é tão fundamental, provável e irrefutável, quanto a lei da gravidade. É nesse ponto que volto a citar Horowitz, que vai exercer  naquele então, seus ideais de socialismo, sim, numa democracia sustentada pelo velho e bom capitalismo que provê as recompensas de cada um.

Mais adiante, abalado com a morte de sua amiga Beth, em circunstâncias misteriosas, David constata que o companheirismo da frente de revolução era apenas de fachada, (posto que adiante fica esclarecido a sua morte por um membro dessa vanguarda revolucionária que permanece em silêncio oportuno) e sua ideologia tão pura, era inútil para resolver questões que a própria causa regrava.

Aqui novamente, abro outro parêntese, para lembrar que o tempo não é providente o suficiente, para modificar práticas e ideais falidos. O socialismo puro do ideal de Horowitz àquela época, não existirá jamais, pois assim como a lei da recompensa é natural da vida, a natureza humana é primorosa em suas diferenças. Assim como há indivíduos, cuja caridade e fraternidade são o sal de seu caráter, há também na mesma medida o homem indiferente, porém, todos sem exceção, regidos pela “lei de recompensa”, seja ela em qualquer ordem.

David Horowitz finalmente enxerga além do véu negro da falsa igualdade social, os elementos primários que regem a vida em suas diferenças. Não havia em seus companheiros de frente esquerdista, o menor interesse em trazer a verdade à vista do mundo. Então David compreende os meandros desse socialismo e rompe com toda a referência de seus ideais. Os nove anos seguintes foram de silêncio literário, desorientação e de desconstrução de todo aparato ideológico que ele tinha por verdade e que nada mais era, do que uma ideologia, repito, falida, e de compaixão seletiva.

Horowitz que defendia a retirada de tropas americanas do Vietnam, assiste junto ao resto do mundo estupefato, o massacre aos vietnamitas, cambojanos e tailandeses (3 milhões de pessoas assassinadas, 2 milhões de refugiados e outras dezenas de milhões de sul vietnamitas mortos pelos irmãos do norte), pelos comunistas, em campos chamados de reeducação e endossados pelo silêncio conveniente da esquerda mundial.

A visão crítica de David é necessária aos idealistas de hoje, para acordar aqueles que abraçaram por ideologia o socialismo, sob a ilusão da realização de uma plenitude social homogênea, de uma utopia colorida de contos de fada.

Sempre é tempo de mudar. Sempre! A razão prevalece nos corações que nascem para o bem. Horowitz fez seu luto do esquerdismo utópico, que viu se esvair na fragilidade da matéria-prima ilusória do socialismo. Verteu suas lágrimas, fez sua catarse, e se reconstruiu no elemento da verdade sólida que nem de longe se chama socialismo.

O conservadorismo é a roda descoberta, e não há como nem porque se reinventá-la. Não há como alimentar utopias, porque a verdade sempre emergirá  delas. As leis da natureza (como as da recompensa), são irrefutáveis e uma vez compreendidas, resta apenas aceitá-las e delas procurar o controle para se prover o desenvolvimento da vida em sociedade pacífica.

A compreensão da necessidade de estudo de todas as  lógicas, é bem vinda nesse ponto em que se observa que a retirada de um conceito como por exemplo, o conservadorismo, das grades de ensino das universidades e escolas, deixa de ser estudo, para se tornar “propaganda sistemática”. Assim, temos vivido dias de publicidade socialista constante em nosso meio social brasileiro, pela propagação de leis e emendas políticas praticadas pelos três poderes, que têm adotado os caminhos tortuosos desse sistema cujo produto final vem a ser a falência de valores, de conquistas, enfim.. de toda a sociedade.

David Horowitz tem trabalhos relevantes para a sociedade, como fundações, institutos e  obras primas de literatura, cuja leitura é um presente às mentes pensantes, cujo valor é inestimável por ser cheio de conhecimentos dos dois lados, em que aqui faço destaque ao título “A Arte da Guerra Política”.

Em sua obra “A Arte da Guerra Política”, Horowitz destaca pontos cruciais determinantes das vitórias políticas,  independente de ideologias, mas que uma vez aplicados, convergem para a vitória. Destaca o cenário dessa guerra onde há três elementos a ser considerados, 2 oponentes e o povo que assiste. De outra forma, numa primeira instância, eu chamaria de arena de batalha, onde os elementos são perfeitamente ajustados ao contexto de 2 adversários e 1 prêmio. David brilhantemente descreve em sua obra os passos trilhados pelos vencedores, os métodos adotados pelos oponentes, as escolhas feitas pelos eleitores. Cita exemplos próximos de nós, e formaliza com tanta lucidez, simplicidade e verdade, os desenhos da guerra política, que ao final da leitura, é quase irresistível dizer... Elementar meu Caro Watson!

Mas de tudo que li, o mais feliz dos momentos é compreender que David Horowitz, outrora militante de esquerda,  valida o conceito de conservadorismo, porque esse sim, é baseado na verdade sólida e provável.

Por: Mônica Torres
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Publicado originalmente em: Grumpomoneybr