É curioso
a gama de experiências traumáticas e suas consequências, que uma pessoa pode
suportar. O ser humano é surpreendente em seu leque de comportamentos.
É sabido
que um trauma não se origina no acontecimento traumático propriamente, mas na
forma com que o sistema nervoso responde completa ou incompletamente a esse
evento, podendo transformar-se ou não em “trauma”. Eventos traumáticos vão
desde ataques, desastres naturais, abusos...,
até à 'tortura'. Esses eventos
podem ser de curta ou longa duração, ou ainda repetitivos, como as torturas, ou
ameaças à vida, alegadas por exemplo, pelas
pessoas que passaram pelo crivo do período militar no Brasil, sob a custódia prisional
de carrascos.
Afunilando e trazendo a questão para as vítimas de
tortura do período militar, são surpreendentes alguns comportamentos de caráter ora resistente, ora
inquieto e desconexo. Então é impossível não trazer à tona aquela lembrança imediata
de alguém conhecido que passou por lá.
Segundo o Dr. Peter Levine (PhD em psicologia e
biofísica) especialista em transtornos de trauma, essa é a causa do sofrimento
humano mais confundida e mal curada. Há uma infinidade de sintomas atribuídos a traumas, mas em igual número,
há diagnósticos totalmente equivocados.
A questão
crucial no comportamento arrogante e desconexo de uma pessoa que tenha sofrido
esse tipo de evento, é: Até onde pode-se
ler trauma e até onde se ilumina traços de caráter vingativo, quando pessoas
assim exercem algum tipo de poder? Não dá pra não trazer à memória, situações
testemunhadas de discursos e diálogos desconexos, falas impacientes, mudanças
drásticas de decisões, etc.
Encarando
como trauma, é correto assumir que há um impedimento natural óbvio, de que
exerçam cargos de poder que os confira responsabilidades no topo da hierarquia
social. É desconcertante imaginar que uma pessoa com traumas provenientes de
tortura, com visíveis momentos de intolerância exacerbada, discursos desencontrados, cheios de lacunas..
desconexos.. possa conduzir com destreza o destino de uma só pessoa que seja, e
tão menos, o destino de um país inteiro. É perigoso, imprudente e resvaladiço,
concordar ou aceitar essa iniciativa. Mas é o que temos permitido todos os
dias.
Se não por traumas, mas pela têmpera vingativa resultante de frustrações e realizações interrompidas, de ilusões desfeitas, teses derrubadas, ideais fracassados, surge delineado um perfil perverso, cuja vingança é o único combustível.
Se não por traumas, mas pela têmpera vingativa resultante de frustrações e realizações interrompidas, de ilusões desfeitas, teses derrubadas, ideais fracassados, surge delineado um perfil perverso, cuja vingança é o único combustível.
De uma ou
de outra forma, o poder não pode ser o prêmio de quem ostenta esse
desequilíbrio.
O mal, que
vem junto com os cartões de benefícios, não traz sequer os dons da delicadeza,
nem projeta através de seus gestos a tolerância. Arrogância e desdém são traços
já nem tão disfarçados em sua postura ilusória de poder. Com os programas
traçados em mesas de sociedades obscuras, ideologias perversas celebradas à luz
da conveniência, também vieram as contas dessa frustração, dessa vingança. E
nós, igualmente permitimos.
Perplexos,
assistimos o desenrolar sinistro, a profusão de insanidade, o festim exasperado
de pecados, de maldades, de improbidades, de truculências.
Perplexos, nos resignamos em nossas condições de observadores, sem querer acreditar que tudo.. tudo não passa de “vingança”.
Por: Mônica Torres
Perplexos, nos resignamos em nossas condições de observadores, sem querer acreditar que tudo.. tudo não passa de “vingança”.
Por: Mônica Torres
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Publicado originalmente em: Grupomoneybr