segunda-feira, 29 de junho de 2015

Da Indústria às Feiras de Rua



Exercer nossa cidadania na observação e cobrança da providência do equilíbrio econômico do país,  é uma tarefa que todos deveríamos praticar em modelos diversos, mas com igual critério para qualquer cidadão. Cada um a seu modo, daríamos forma à nossa reivindicação nos moldes do respeito e da educação, mas sem deixar de exercer nossos direitos à informação e à ação que o governo nos deve. O fato é que cidadania em país socialcomunista esquerdopata, contaminado pela corrupção que já vem de cima,  é uma quimera, é... utopia mesmo. Nossos compatriotas adormecidos, só acordam na hora do futebol. São guerreiros de arquibancada. 

De tanto rever matérias publicadas todos os dias, dando conta com tanta fartura de informações, dos números da nossa economia, todo brasileiro poderia ter, pelo menos uma noção do que nos aguarda cada dia que amanhece.

Não é possível que as pessoas não prestem atenção no movimento (melhor dizendo, na falta de movimento) das lojas ultimamente. Não é possível que sejam tão alheios aos números que são publicados nas notícias diariamente. Não é possível que sejam indiferentes às etiquetas de preços nas roupas, nos alimentos, nos remédios... enfim nos gêneros de primeira, segunda, terceira  necessidade e sabe-se lá em quantas categorias poderíamos classificá-los.

Em “O PIB Desce Ladeira a Baixo” http://ossamisakamori.blogspot.com.br/2015/06/o-pib-desce-ladeira-abaixo.html, o autor informa entre outras coisas importantes, que o Brasil pratica taxas de juros entre as mais altas do mundo. Isso significa que o homem comum que sai às ruas, e que não goza do empréstimo com juros dourados do BNDES para fazer suas compras diárias, fica mais pobre e devedor a cada dia.

O brasileiro comum, está inserido num modelo de vida propício a enxergar melhor o comércio varejista do que os grandes empreendimentos, pois que estes não são privilégios das classes mais simples. A crise chegou ao setor dos dois lados: Para o cidadão que compra e para o empresário que precisa enxugar as despesas a fim de prover a sobrevivência da empresa.

O ciclo parece ir se fechando nesse ponto. O comércio e a indústria demitem, o cidadão não cumpre seus compromissos, que se transformam em dívidas caras pelos juros impagáveis. As empresas fecham, o mercado se encolhe. Uma olhada nos jornais de hoje vai trazer à vista, números de demissões surpreendentes.  Nos últimos dois meses, grandes lojas como C&A, Riachuelo e Marisa registraram números de demissões bem assustadores.

O governo parece querer destruir todo tipo de estímulo e processo produtivo. Jamais vou entender o raciocínio de quem despreza a verdade de que “o que gera emprego é empresa”.  Uma vez quebrada essa economia, sobra o agronegócio que vai para o ralo quando submete os produtos aos preços de mercado interno e internacional e isso é aplicado em qualquer nível. O país das “commodities” se quebra em seus mais elementares negócios. Por fim, o funcionalismo público não sustenta a economia em lugar nenhum.

Finalmente dividido e a meio passo da derrota total, o Brasil estremece nos últimos suspiros de esperança de progresso, enquanto sua governante pleiteia cordialidade da maior nação democrática do mundo. O país sofre as pressões da administração errada, do abuso, da arrogância e do planejamento maquiavélico de destruição.

O que sobrará disso, nós já sabemos, sinistro é pensar no que virá depois.

Por: Mônica Torres
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Publicado originalmente em: Ossami Sakamori Blogspot

quarta-feira, 24 de junho de 2015

Nós e La Boétie



Étienne de La Boétie...,  eu o teria seguido por todos os caminhos depois de ouvi-lo pronunciar seu “Discurso da Servidão Voluntária”. Vivido na conturbada França do século XVI, onde o povo gaulês encontrou derrota face ao exército e à fiscalização real, que lhes impôs a vil carga de impostos, Étienne foi uma voz, a ecoar até hoje e para sempre, nas almas de cidadãos oprimidos, a revirarem-se em suas dúvidas, a amargarem suas opressões e verterem suas lágrimas de covardia.
            Sua mais famosa obra, o discurso, encontraria o mesmo eco hoje, dentro dos muros de nosso território, e traz questões sobre o domínio de todo um povo, por um grupo pequeno que o oprima, sem obstáculos e sem qualquer dificuldade de exercer esse controle.
            Conceber a ideia de “Servidão Voluntária” é paradoxal, pois o termo implica em suprimir a própria liberdade, voluntariamente. Se lhes veio à memória, algum país cujo tecido social está sujeito à prática de corrupção e ao domínio de pequeno grupo, que apesar da impopularidade, não renuncia aos privilégios, vantagens e benefícios do poder, não é mera coincidência e compreenderão melhor a contemporaneidade do discurso de La Boétie.
            Não poderia aqui reproduzir na íntegra  o discurso, pois lhes pareceria cansativo, um ler interminável. Então, uma vez separados parágrafos que julguei relevantes desse discurso, poderão traçar uma linha comparativa às circunstâncias de hoje. Assim, vamos aos trechos...

Que nome se deve dar a esta desgraça? Que vício, que triste vício é este: um número infinito de pessoas não a obedecer, mas a servir, não governadas mas tiranizadas, sem bens, sem pais, sem vida a que possam chamar sua? Suportar a pilhagem, as luxúrias, as crueldades, não de um exército, não de uma horda de bárbaros, contra os quais dariam o sangue e a vida, mas de um só? Não de um Hércules ou de um Sansão, mas de um só indivíduo, que muitas vezes é o mais covarde e mulherengo de toda a nação, acostumado não tanto à poeira das batalhas como à areia dos torneios, menos dotado para comandar homens do que para ser escravo de mulheres?

Aqui, La Boétie manifesta seu primeiro arroubo de indignação, onde há uma clara repulsa pela servidão, porém ainda sem prejuízo da obediência. Sua revolta é legítima, pois argumenta com a lógica de um ser humano cuja visão é ampla, centrada e livre de conceitos partidários. Esse “um só indivíduo” pode ser claramente interpretado como “uma fonte centralizadora de poder” que na época era representada pelo rei de França e hoje tão bem representada por governos tiranos totalitários e desumanos já bem conhecidos de nosso povo.

“...Dois podem ter medo de um, ou até mesmo dez; mas se mil homens, se um milhão deles, se mil cidades não se defendem de um só, não pode ser por covardia...
Quantos prodígios temos ouvido contar sobre a valentia que a liberdade põe no coração dos que a defendem!

Expõe aqui as fraquezas humanas sem nomeá-los covardes e concebe com a luz da razão, o amor à liberdade, como o elemento de ânimo que permite ao homem oprimido lutar gloriosamente. De fato, o amor à liberdade é capaz de tornar invencível, o mais fraco dos escravos, é capaz de surpreender e transpor o mais difícil dos obstáculos. Mas La Boétie dispõe também, que esse amor à liberdade, representa impulso que deve ser manifestado e materializado pela atitude propriamente.

Todavia, La Boétie também desdenha o mesmo povo que não classifica de covarde. As provocações talvez antecedam à gloriosa noção de solução, ...mas o fato é que provoca! Como se desejasse aí disparar o dínamo, a mola motriz, a centelha de reação desses povos.

São, pois, os povos que se deixam oprimir, que tudo fazem para serem esmagados, pois deixariam de ser no dia em que deixassem de servir. ” e mais adiante ... “Se basta um ato de vontade, se basta desejá-la, que nação há que a considere assim tão difícil?

São pois, declarações de lucidez que em seu manifesto, descrevem a displicência dos oprimidos, a negligência com que legitimam sua própria casta.

Antes demais, eu creio firmemente que, se nós vivêssemos de acordo com a natureza e com os  seus ensinamentos, seríamos naturalmente obedientes ao país, submissos à razão e de ninguém
escravos

Em contrário ao que fazem crer alguns pensadores da história, não aquiesço que Étienne La Boétie, seja precursor direto do anarquismo, pelo menos não como responsável direto, não atribuo às suas reflexões, nenhum laço com o pensamento anárquico que oblitera toda noção de ordem. De outra forma, compreendo a sua noção de liberdade baseada na observação da natureza, como uma apologia à mais perfeita ordem, pois não lhe faltam exemplos regrados pela comunhão com Deus e pela observância da criação divina em seu estado mais puro cujo reino é composto de harmonia, ainda que hierarquicamente. Não há escravos no reino animal, mas há diferenças que muito se distinguem, se complementam e que se socorrem.

Há três espécies de tiranos. Refiro-me aos maus príncipes. Chegam uns ao poder por eleição do povo, outros por força das armas, outros sucedendo aos da sua raça”.
Sendo diversos os modos de alcançar o poder, a forma de reinar é sempre idêntica”.
Os eleitos procedem como quem doma touros; os conquistadores como quem se assenhoreia de uma presa a que têm direito; os sucessores como quem lida com escravos naturais.”

Assim tem sido em diferentes tempos. Assim temos visto hoje se passar como filme, cujo roteiro fora tão bem escrito por esse destacado observador do comportamento dos povos. Quem não traz imediatamente à memória a situação dos povos da América Latina, oprimidos pela tirania de seus governos castradores, corruptores de caráteres, usurpadores de bens, manipuladores de opiniões, abutres.. de olhares oblíquos, a cercear a liberdade de seus povos?

O tirano submete a uns por intermédio dos outros.
É assim protegido por aqueles que, se algo valessem, antes devia recear, e dá razão ao adágio que diz ser a lenha rachada com cunhas feitas da mesma lenha.”

Como não trazer à lembrança imediata, todos os escândalos, todos os vexames, todos os desfechos sujos enlaçados em traições, cujos protagonistas são todos da mesma têmpera?

“Incrível coisa é ver o povo, uma vez subjugado, cair em tão profundo esquecimento da liberdade que não desperta nem a recupera;”
É verdade que, a princípio, serve com constrangimento e pela força; mas os que vêm depois, como não conheceram a liberdade nem sabem o que ela seja, servem sem esforço e fazem de boa mente o
que seus antepassados tinham feito por obrigação”.
Mas o costume, que sobre nós exerce um poder considerável, tem uma grande orça de nos ensinar a servir e (tal como de Mitrídates se diz que aos poucos foi se habituando a beber veneno) a engolir tudo até que deixamos de sentir o amargor do veneno da servidão.

Étienne lembra ainda, que aqueles que nasceram subjugados, desconhecem o prazer da liberdade de escolha. Assim, mais que imprescindível é, que um povo não deixe passar à geração seguinte, a sua própria submissão. E que observe quão sutil é o veneno que o consome, pois dele se alimenta sem que  mais o perceba.  Destilado hoje, nas doses da propaganda vil imposta, nas pequenas benesses que os compram, nas contendas que promovem entre os subjugados, que adoçados pelos programas sociais que mal os arremediam, deixam-se descansar na zona de conforto.

As sementes do bem que a natureza em nós coloca são tão pequenas e inseguras que não aguentam o embate do alimento contrário”.
Diga-se, pois, que acaba por ser natural tudo o que o homem obtém pela educação e pelo costume; assim, a primeira razão da servidão voluntária é o hábito”.

O inimigo é preparado, astuto e conhecedor profundo da resistência fraca ou falta dela. Implacável “alimento contrário” a que não se opõe um povo, cuja doutrina da submissão foi bem ministrada. A isso se refere La Boétie com a expressão “obtém pela educação e pelo costume”. 

O Grão-Turco teve perfeita consciência de que os livros e a doutrina, mais do que qualquer outra coisa, dão aos homens a capacidade de se conhecerem e de odiarem a tirania. Sabe-se que nas suas terras não há mais sábios do que os que lhe convém a ele”.

A educação, é enfim, a luz de todas as coisas. O Princípio de todo construir, o elemento principal da escolha e o caminho mais curto para a liberdade. Eis a matéria-prima da ética e da sabedoria que une os povos num bem maior. Eis a solução implícita no contexto do discurso, cuja referência à natureza, oferece as ferramentas pacíficas do comportamento natural de cada indivíduo. Que assim obedeça à sua lei natural de liberdade, que repudie a servidão, não servindo pois à tirania a que foram forçados ou por engano, porém, sem jamais prescindir da ordem.

O povo sempre foi assim. É perante o prazer que honestamente não pode atingir, aberto e dissoluto e, face ao agravo e à dor que honestamente não deveria sofrer, insensível”.

 Não há hoje dissonância entre o discurso de Étienne de La Boétie do século XVI e o roteiro de nosso viver atual. Não há discordância entre nossos sentimentos, não há diferenças entre os tiranos, nem sequer pela monta vergonhosa que somaram, a não ser pelos títulos de reis, que aqui não se tem.
Mônica Torres.

Nota: O Discurso da Servidão Voluntária pode ser encontrado na íntegra e em português no link http://www.ebooksbrasil.org/adobeebook/boetie.pdf (arquivo pdf).

Por: Mônica Torres
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Publicado originalmente em: Grupomoneybr

sábado, 20 de junho de 2015

Sombra da Democracia


A despeito do brilhante artigo de José Antônio Giusti Tavares em Mídia Sem Máscara intitulado: “Partidos Totalitários e Democracias Constitucionais”, traço minha interpretação de visão menos acadêmica e mais emocionada.

Teoricamente o conceito de democracia, não se rege por interpretação única, e somente distinguindo entre governos constitucionais e os não-constitucionais pode-se desatar esse laço.

No ocidente, as democracias existem bem distintas, eternamente em conflito: uma "constitucional", conservadora, cheia de virtudes e integridade. A outra, totalitária, de sentido perverso e desviante, sobretudo no Brasil, onde se vale da
fragilidade promovida pela involução cultural de nosso povo.

Uma vez desvirtuada, desencaminhada, frágil e corrompida a democracia, pelos excessos e decadência de seus valores (sobretudo nas elites), abre-se espaço, para que os partidos dessa ordem totalitária nefasta, se movam em detrimento da
democracia constitucional.
Giusti, evidencia quatro fenômenos determinantes desse prejuízo (e eu classifico como desastres):

1 - O fato da democracia constitucional ser muito complexa, facilita que homem comum das massas, escolha pelo
totalitarismo (de discurso simplista e exíguo), que usa como recurso o nivelamento social em geral almejado pelas
classes mais carentes.

2 – Há um aproveitamento malvado dos valores democráticos, um oportunismo praticado pelos pelos partidos totalitários, em que se beneficiam das facilidades e aberturas das democracias constitucionais, sem que abram mão de suas ideologias conspiratórias, golpistas... e sem se obrigarem a cumprir as regras dessa boa democracia. Em simples palavras: “Venha a nós, tudo! Ao vosso reino... nada!”. Na prática, a conspiração é organizada e vem do topo (nos cargos-chave das instituições), e a mobilização vem de baixo (e armada) como nos movimentos sociais organizados permanentes (a exemplo do MST).É claro que ao longo dos tempos há mudanças, mesmo na ideologia mais resistente. e apesar de que “Partidos e homens públicos têm a responsabilidade de publicar as suas concepções e estratégias políticas” (como cita Giusti), o PT jamais o fez, recusando-se a comprometer-se com o pacto constitucional de 1988. E nossa democracia, tem permitido isso a despeito de sua fragilidade.

3 – Os cidadãos identificados com a democracia constitucional, têm suas atividades, dedicação e interesses, normalmente divididos entre múltiplas atividades e associações, cuja liberdade é preservada principalmente pelo fato do estado ter pouca importância e participação. Em conflitante processo, o totalitarismo dos partidos inseridos (melhor seria dizer infiltrados) nessa boa democracia, valendo-se das facilidades citadas aqui anteriormente, apregoam e impõem uma postura de ativismo revolucionário, e de forma imperativa, uma introdução integral do Estado, mesmo nas esferas mais íntimas. De novo em palavras simples... “...Você trabalha para meu usufruto!”.

4 – Quase redundante, Giusti destaca em quarto lugar, que o acesso ao conhecimento dos trâmites da democracia constitucional, é privilégio do homem mais instruído, por implicarem esses trâmites, em conhecimentos contextuais e
práticos, específicos em áreas diversas, que eu enumeraria aqui: jurídica (em sua infinidade de leis), social, econômica e política. Enfim, exercer a democracia constitucional plena em sua total essência, exige um homem mais preparado
intelectualmente, que no geral não é característica relativa ao homem comum das massas populares.

       Conclui Giusti, que as massas populares, movidas pela ilusão da falsa segurança proposta pelo totalitarismo, e avessas aos riscos que a liberdade pessoal e política lhes proporcionaria, voltam suas crenças e depositam suas esperanças no
discurso emocional e simplório dos partidos totalitários, que as alcançam e as interpretam em suas mais diferentes necessidades, reconduzindo-os à “zona de conforto” e imputando-lhes um autoritarismo impiedoso invisível (na medida
em que cativante), e uma autoridade extrema, que lhes tira o peso da responsabilidade de decidir por si próprios.

       Giusti acrescenta em seu brilhante artigo, que democracias mais avançadas, têm se valido de recursos previstos na própria lei constitucional, cujo elemento mais definitivo de oposição é a “proscrição de partidos totalitaristas” e cita cláusulas eficientes da Constituição Federal da República da Alemanha, aplicadas já em seus tribunais. Destaca ainda, que há lei de semelhante efeito na Constituição do Brasil (artigo 17) , ressalvando porém a necessidade de seu cumprimento. Acrescenta por fim, o que aqui reitero com a alusão a nossas sucessivas eleições de urnas eletrônicas fraudulentas, que: “Eleições universais geram legitimidade democrática, mas não legitimidade constitucional”.

Na prática... eleger não é democratizar , e esse exemplo já está desgastado e claro apenas na observação das democracias totalitárias perversas aplicadas em Cuba, Venezuela, Argentina, Equador, Bolívia e agora a caminho em passos largos... Brasil. 

Por: Mônica Torres
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Publicado originalmente em: Blog do Mundoxxx
Publicado posteriormente em: Mercados por Pinchas