Vez ou outra, uma leitura me provoca
inquietação, …e medo. Refiro-me ao artigo “A CEGUEIRA MORAL NA
CONVIVENCIALIDADE” de M.Ventura.
É perturbador ler e aceitar como verdade, verdades que desejamos desprezar, a fim de torná-las mentiras.
“…nem
mesmo o transcorrer dos séculos tem sido suficientemente forte para
aplacar a cegueira moral forjada no orgulho das criaturas que faz com
que uns violentem, sem pudores, o sentimento, a emoção, o ideal e até
mesmo a vida de outrem .” (trecho do artigo).
O que é essa fúria, que transborda dos
homens, que envenena o mundo com ódio? O que é isso, que deixa olhos e
ouvidos, cegos para minorias, para os milhões de oprimidos, desprezados,
refugiados, escravizados, esquecidos do mundo? Quem são essas pessoas
que abraçam a noite como se fosse dia? Que se revezam em ferir, oprimir e
escravizar, incapazes de sentir como sua, a dor do outro?
Não nascemos partidários de nada! Não
nascemos cultuando religião alguma.. Limpos de memória e conceitos, Deus
nos trouxe à vida, capazes de observar à nossa volta e aprender com a
natureza animal, se não houvera quem nos desse direção na nossa formação
intelectual.
Acontece que nasce joio em meio ao trigo,
e tantas são as raízes que “nem mesmo o transcorrer dos séculos tem
sido suficiente para transformá-las.
Ivan Illich em sua obra “La
Convivialité”, aborda temas delicados e de interpretação delicada
também. Apoia sua linha de pensamento numa liberdade conseguida somente
através de recurso exclusivamente interior, descartando a importância da
escola institucionalizada para o aprendizado humano e exaltando a
teoria do auto aprendizado. Chega a dizer que “…a produção do saber e
todas as coisas que constituem a escola, enganam a sociedade…” As
interpretações merecem um cuidado atento, porque há doutrinários que se
apoiam confortavelmente nessas palavras a fim de tirar de seus irmãos as
oportunidades desse mesmo saber.
Tantas são as linhas de pensamentos,
candidatas a filosofia, quanto é a incapacidade humana de abrir os olhos
para as necessidades mais simples de seus irmãos.
O mal se repete, alheio e indiferente às palavras escritas nos livros e pronunciadas nas bocas importantes ou ordinárias.
O homem está contaminado de sua própria
vaidade, como entre as colunas da Roma antiga, os personagens no artigo
aqui citado. Raras Lívias, e Flávias demais a manipularem os destinos
da humanidade e atrasar sua evolução. Quem leu a obra “Há Dois Mil
Anos”, compreenderá do que se trata.
A tendência humana sempre foi controlar. E fizeram guerras, torturaram, trucidaram e escravizaram em desejo desse controle.
Que diferença há entre judeus de ontem
que morreram em fugas pelas montanhas e estradas frias da Europa, dos
refugiados sírios nos mares de agora? Faz tempo que a inclemência fez
seu lugar entre os povos, acobertada pela banalização assumida, que
cerra os olhos e ouvidos aos menores, que mata sob rótulos como “crimes
de honra’, …como se houvesse honra em um crime? Como se todos os crimes
não fossem “desonra”? …como são não fosse apenas fúria a essência dessas
iniciativas?
De repente o mundo todo parece ter
cruzado uma linha… parece ter ultrapassado uma marca de moral, e para
trás, parece ter esquecido a humildade, a compaixão, tolerância,
piedade, misericórdia, fraternidade e o amor com que deveriam se tratar
as pessoas. A natureza humana parece ter sofrido uma transformação, que
em nada se parece com crescimento, porque não tem havido nesses tempos a
evolução da alma, que não se depura de suas transgressões.
Não importa o nome que se dê a Deus, se
conseguirmos encontrá-lo à nossa volta. Não será paquistanês, americano,
preto ou branco, católico, budista ou islamita… Então.. por que nós O
desprezamos em nossos irmãos? por que O tratamos com indiferença? Por
que O matamos todos os dias?
Quanto sofrimento ainda teremos que viver, para enfim viver?
Por:Mônica Torres
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Publicado originalmente em: Gripomoneybr