segunda-feira, 25 de maio de 2015

O Levante



A ideia de submissão em massa, exposta em artigo anterior, ‘Letargia de um Povo’, traz-me um eco de reflexão até conceber como filha, a compreensão de outro importante elo da tríade “Entender, Assumir e Reagir” em relação à sedução. Em linhas gerais, o artigo anterior esquadrinha a reação ou falta dela ao efeito da sedução.

Uma vez entendido que o estado de submissão de um povo, passa pela sedução (como relação interpessoal entre poder e povo), inevitavelmente isso reverbera em outra questão urgente: “O que levaria um povo a reagir?” O que levaria um povo a se manifestar  num levante contra a opressão que o submete em sua mais primária condição de escravo em correntes invisíveis?  O que exatamente faria um povo acordar dessa letargia?

Tenho percebido na minha observação diária, a necessidade e carência das pessoas por um líder. Em linhas gerais, líder, é compreendido como sendo aquela pessoa capaz de chamar para si a confiança de outrem, é capaz de organizar, dirigir, influenciar decisões, formar opiniões, estimular e inspirar aqueles que o seguem. Mas então, por que ainda não o encontramos entre aqueles que muitas vezes escolhemos pelo voto e que nos representam legalmente? A resposta é “identificação”. Uma ideia simples, percebida e aplicada em todos (sem exceção) os processos de liderança.

Fazendo um aparte sobre o assunto, o princípio da identificação foi cuidadosamente usado pelos partidos de esquerda, na formação de sua estrutura e sedimentação de sua ideologia. Basta um exame rápido  no primeiro bloco de texto da carta (disponível para leitura na rede internet em vários links) do ditador Fidel Castro a seu falecido pupilo Hugo Chaves, para se constatar que o conceito de “identificação”, é regra fundamental para a forja de uma liderança, de qualquer ordem. O 1º parágrafo dessa carta diz: “...Mantém-te em linha com teu povo. Identifica-te com eles...”. É claro que o restante da carta é uma sucessão de instruções complementares indispensáveis para aquela ideologia (que não desejamos), mas a essência da liderança está na identificação, assim como a submissão está para a sedução.

Há tanta simplicidade na ideia, que a temos descartado sumariamente,  sem tirar qualquer proveito do princípio lógico que ela encerra; “seguimos aqueles com quem nos identificamos”. Mas então haveremos de nos perguntar: Quem entre os que votamos, será esse líder? Ora, qualquer um que ouse reconhecer (assumir) publicamente que fomos enganados, que estamos desamparados, dará o primeiro passo para a liderança. A humildade é toda a ferramenta que alavanca esse processo. Uma vez levantada essa voz humilde, capaz de “se assumir enganado”, em meio à multidão hoje constrangida pela mesma sensação de engano que amarga no silêncio,  que assim se sente e não declara, essa voz será verdadeiramente o líder que seguiremos. Haverá identificação plena entre voz e povo, e alívio do peso de carregar “supostas culpas” de fomos derrotados, de que estivemos descuidados, de estarmos desamparados.

Não é apenas a vaidade, mas o constrangimento, o receio, o medo de não ser aceito, que faz do homem omisso um candidato ao fracasso. É preciso vencer o medo, permitir-se arriscar encontrar no povo a identificação desejada. E não é fácil encontrar no homem político essa disposição, porque para esse tipo, um erro dessa natureza significa declarar-se fraco e incapaz, e esse é um risco que não desejam correr.

A humildade é o único caminho para a identificação. Através da identificação, haverá o reconhecimento do povo em seu líder como espelho claro. É a vereda mais segura para trilhar e perpassar todos os obstáculos de hoje. Assim a esquerda forjou seus líderes, “...Emociona-os, leva-os em consideração...”, eis outro trecho.
 
O povo necessita de consolo, de compreensão de suas necessidades, de seus anseios. Necessita identificar-se para seguir um líder, para lhe conferir liderança. Nossos políticos não foram capazes de ouvir de perto seu povo, de estudar-lhes os medos, para prover-lhes a segurança necessária para reagir. Aquele que o fizer, despertará de vez o povo dessa letargia, e esse povo se levantará em massa para reagir e reaver o que é seu.

--------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------
Publicado originalmente em: Grupomoneybr

quinta-feira, 21 de maio de 2015

Letargia de um Povo



O significado de escravidão nos dicionários, é muito restrito perto do poder que o conceito encerra. Nada absolutamente de bom, advém desse poderoso domínio. Estendendo o conceito de escravidão, o sentido de “submissão”  é o que melhor amplifica a noção de escravidão. É também um conceito atualizado, verdadeiro e praticado com mais ou com menos força em vias diferentes, posto que há tantas variantes da forma (física, emocional, financeira, social, emocional, sexual...), mas resultando no mesmo prejuízo.

            Compreender o significado de escravidão como submissão, nem sempre é cortar os laços das amarras, sobretudo se essa submissão é uma prática em massa que atinge todo um povo. Eis a forma mais difícil de se combater a submissão, não somente porque ela seja fruto de “sedução”, mas porque está intimamente ligada com a negação sistemática de uma possível culpa. Em suma, é difícil para um ser humano, admitir que é escravo, porque em paralelo, teria que admitir sua própria culpa da permissividade. Ninguém deseja declarar publicamente suas supostas culpas.  

            O princípio que facilita a submissão de um povo livre, está profundamente enraizado na falta de capacidade desse mesmo povo antever e interpretar a sedução, enxergar as manobras dessa sedução e manifestar a reação contrária. Isso aconteceu em eventos religiosos como o suicídio em massa promovido pela seita de Jim Jones em 1978, em golpes financeiros como as poderosas jogadas internacionais entre países mais e menos ricos, em golpes políticos como a criação de estados sociocomunistas. Comum a todos, a determinante sedução, como mola motriz.

            O povo brasileiro não é diferente em suas reações, porque não se trata de uma formação cultural, mas de essência inerente ao ser humano. Em palavras simples: Estamos envergonhados (cada um de nós) de admitir que fomos seduzidos e enganados, então preferimos a negação do fato. Assim, continuamos presos à zona de conforto.

            As reações de nosso povo, são uma manifestação tímida do desejo de nos desvencilhar da atual situação crítica política (que desconfiamos preceder a submissão total do povo brasileiro), mas não nos torna diferentes daqueles que também não reagiram, só porque carregamos uma bandeira em dias de protestos. Ainda estamos presos à zona de conforto que a condição humana infelizmente nos permite.

            Nunca enfrentamos o inimigo sedução, de forma tão desarmada como agora. Nunca quebramos correntes tão invisíveis, nunca assistimos tão desamparados, faltar o chão sob nossos pés. Os prejuízos são tantos que tem sido melhor não enxergá-los do que lutar contra eles. As desilusões são tão fortes, as decepções tão ferinas, os golpes desferidos pelo poder são tão covardes, que ao nos darmos conta da natureza desse poder, decretamos “perda total” simplesmente, como se esse sinistro pudesse se resolvido assim.

            Não somos aquele povo esperto que assumimos ser a vida toda, cujo ingrediente “jeitinho” tudo resolvia. Ao contrário, somos mais ingênuos do que o resto do mundo, porque com um agravante a mais, alimentamos a ilusão de que somos invencíveis. Assim morreu Narciso à beira do lago.

            Entorpecidos pela incredulidade, não há o menor sinal de que os brasileiros em sua maioria, nas ruas , nas filas de bancos, nos ônibus, no trabalho, nos dias comuns de suas vidas, esbocem qualquer reação de combate ao monstro que já o domina e relega sua condição de povo a condição de massa de manobra. Como Narciso, ainda estamos olhando para dentro do lago, num estado letárgico, sem qualquer percepção da atmosfera em volta. Em pouco tempo estaremos vencidos.

Por: Mônica Torres
--------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------
Publicado originalmente em: Gupomoneybr

sexta-feira, 15 de maio de 2015

Os Olhos da Justiça



            A instância maior do poder judiciário no Brasil é o STF. É a última instância. Depois de suas decisões tomadas, não cabe mais se recorrer a qualquer outro tribunal. Além de proteger e zelar pelos princípios na constituição, para que não sofram ameaça ou dano, o STF tem a peculiar função de definir e julgar questões de constitucionalidade.
           
            Em palavras simples, seria dizer que o STF é um órgão não somente protetor da constituição,  mas que define se um ato é ou não constitucional, o que transforma seus magistrados perigosamente em “interpretadores da lei”.
           
            As atribuições do STF são de amplitude nacional porém restritas a apenas casos em o interesse nacional esteja em jogo. Ocorre que a quantidade de juízes (em 11 apenas), é desproporcional ao número de processos, tornando o STF um acumulado de casos processuais, cuja “morosidade” é seu elemento mais presente. Aqui, vale um aparte para incluir nas funções do STF, o julgamento de cidadãos com foro privilegiado, ou seja: Seus próprios juízes, presidente da república, vice-presidente, membros do CN, procurador da república, ministros de estado, comandantes das FFAA, membros dos Tribunais Superiores, do TCU, e chefes de missão diplomática.
           
            Quem fizer a relação entre “interpretadores da lei” e “morosidade” , compreenderá facilmente o perigo que se estabelece na escolha dos ministros do STF. Podemos dizer de forma tosca, que no Brasil, eles são um grupo restrito com poderes jurídicos logo abaixo de Deus.
           
            Haja sério exame, reflexão, serenidade, discernimento, responsabilidade e imparcialidade nessa escolha, o que definitivamente não tem sido praticado pelos parlamentares responsáveis por essa composição delicada.
           
            A função de um juiz, é no meu entender, a mais difícil e desgastante função que um homem pode exercer. Nela, há de se fundir o conhecimento do jurista e o princípio moral do homem. Não deve haver discrepância entre conduta pessoal e conduta de julgamento. Resoluções afloradas via razão e reflexões pessoais, devem alinhar-se puramente com os princípios de lei adotados pela constituição, resultando a função de juiz, na de julgador verdadeiramente imparcial. Que não se separe o homem do juiz enquanto ministro do STF e que nele, homem, esteja impressa e completamente incorporada a noção de servidor, em que deixe de existir a impressão pessoal, as simpatias políticas e as preferências ideológicas,  para se manifestar apenas a serviço de uma nação.
           
            Um país já contaminado pela flexibilização da moral, pelas consequências trágicas de uma política perversa, haveria de ter cuidados redobrados nessa escolha. Ao contrário disso, as votações dos órgãos responsáveis, têm sido movidas por interesses pessoais, por previsões de expansão de suas práticas ilícitas, na possibilidade do olhar condescendente de um magistrado, cujo homem pode estar completamente separado do jurista, e cujas decisões podem estar muito mais ligadas a conceitos pessoais e simpatias adquiridas ao longo de sua vida, do que aos princípios que regem a nossa constituição.

            Onde se separa o homem do jurista, morre a imparcialidade, porque não se poderá confiar em nenhum dos dois.

Por: Mônica Torres
--------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------
Publicado originalmente em: Grupomoneybr